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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

'NA RUA CONSEGUI AMPARO', DIZ EX-ASSESSOR QUE VIROU FLANELINHA

Maurício George Rosa Batista tem 44 anos e é presidente da Associação dos Guardadores e Lavadores de Carro. Há 15 anos trabalhando nas ruas de Rio Branco, ele fala sobre os desafios diários e como conseguiu superar as dificuldades e mudanças, principalmente no seu emprego. Batista trabalhava como assessor parlamentar na Assembleia Legislativa do Acre, quando, em 1998, seu candidato perdeu as eleições e ele ficou desempregado.
"A fome falou mais alto e eu tive que ir à luta"
Maurício Batista, flanelinha
O flanelinha conta que aos poucos foi se acostumando com a sua nova realidade e hoje, 15 anos depois de perder o emprego, tem gratidão pelas ruas e um orgulho do seu trabalho. "Foi na rua que eu consegui amparo e o pão para os meus filhos. Foi trabalhando como flanelinha que consegui meu sustento e o da minha família".
O primeiro desafio na nova vida, segundo ele, foi enfrentar o  preconceito e uma barreira imposta por ele mesmo. "Eu pensava no meu trabalho de antes. Pensava onde eu trabalhava e de repente me vi abrindo porta de carro para aqueles que um dia tinham sido meus colegas de trabalho. A fome falou mais alto e eu tive que ir à luta", diz deixando claro que o preconceito não existe mais e expressando o respeito à sua profissão e a dos seus colegas.
Batista acredita que flanelinha sofre preconceito por causa da desinformação e um estereótipo generalizado do trabalhador. Porém, ele ressalta que o comportamento do flanelinha deve ser diferenciado e é assim que o guardador de carro diz ter conquistado o respeito de quem estaciona o seu veículo no centro.
"É ele [o flanelinha] que tem que mostrar para as pessoas que a imagem dele é diferente do que pensam.  Porque se a pessoa não tiver berço, não vai saber como tratar bem os outros e eu, graças a Deus, fui bem criado pelo meu pai e minha mãe. O reflexo disso é o tempo que eu estou na rua e o modo como as pessoas me vêem", explica.
Associação dos Flanelinhas
Batista conta que foi em 2003 que eles tiveram a primeira crise com o poder público. "Tentaram nos tirar das ruas. Eu era apenas um lavador de carro e as pessoas me procuravam para pedir ajuda, mas nem eu sabia como ajudar". A partir daí, os flanelinhas se uniram e foram às ruas para exigir os seus trabalhos de volta.  Durante esse período, Batista lembra que alguns flanelinhas chegaram a ser presos. "Fomos na Assembleia e 23 deputados, se não me engano, nos receberam e conseguiram nos ajudar", conta.
Depois desse período conturbado, o flanelinha lembra que melhorou muito o trabalho de quem depende das ruas para sobreviver. Ele diz que vez ou outra ainda tem algum atrito, mas sempre algo que pode ser resolvido. E foi neste contexto que surgiu a primeira Associação de Guardadores de Carro, fundada em 14 de dezembro de 2003, com o objetivo de lutar para garantir o trabalho dos flanelinhas.
Batista assumiu o cargo de presidente dessa associação, desde o dia em que ela foi criada. "Como não corre dinheiro neste cargo, ninguém quer ser o presidente. Se tivesse dinheiro, eu tenho certeza que já tinham feito uma manipulação para me tirarem". De acordo com ele, a meta da associação é convencer que o serviço dos flanelinhas é caso de utilidade pública e teria que ser pago pela prefeitura ou pelo governo. Dessa forma, Batista acredita que criaria uma ordem no trabalho deles e filtraria os profissionais dessa área.
O sonho
Depois de 15 anos se dedicando somente ao trabalho de guardador de carros, ele conseguiu uma maneira de garantir um extra e terminar a sua casa, Batista está trabalhando há algumas semanas como auxiliar de serviços gerais. "Tudo que a gente vai fazer, pedem o comprovante de renda e a gente não tem. Quero agora conseguir um crediário e ter um cartão de crédito pra comprar os materiais para terminar a minha casa", conta.
"Quero conseguir um crediário e ter um cartão de crédito"
Maurício Batista, flanelinha
Ao ser questionado sobre o que deseja do futuro e do poder público, ele é enfático. "Quero continuar sustentando minha família e quero pedir que as autoridades olhem um pouco mais para as pessoas que estão se acabando na droga. A gente vê o poder público de mãos atadas, as políticas públicas que inventam é só pra ganhar dinheiro porque não funcionam", diz.

Apesar de ser feliz atuando como flanelinha, ele acredita que não teve muitas oportunidades. "Tenho segundo grau completo, sou motorista profissional, tenho curso de formação como monitor de esporte. Nunca chegaram pra mim oferecendo emprego. É muito triste, a parte social fica muito a dever", lamenta.
Fonte: G1.com

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