O
senador Eduardo Suplicy (PT-SP) costuma pisar em ovos ao fazer críticas ao seu
partido. Apesar de evitar o confronto, Suplicy também é um homem dado a
emoções. Emocionado com a conquista do Prêmio Congresso em Foco 2012, na categoria de melhor
senador brasileiro, o petista deixou os sentimentos fluírem ainda no calor
da premiação. Antes de roubar a cena da festa, cantandoBlowin’ in the wind (“Soprando ao vento”, de Bob Dylan) com
o deputado Tiririca (PR-SP) e a banda Móveis Coloniais de Acaju, Suplicy mandou
um recado direto ao presidente nacional do PT, o deputado estadual Rui Falcão.
Na virada do mês, Rui Falcão disse a Suplicy que cogita ceder a vaga ocupada
pelo senador, há 22 anos, a algum partido aliado em troca do apoio à
candidatura petista ao governo de São Paulo em 2014.
Consulta
popular
O
parlamentar avalia que, com o reconhecimento à sua atuação expressado pelos
jornalistas e pelos internautas no prêmio, Falcão não terá outra saída a não
ser apoiar a realização de prévias internas para definir o candidato da
coligação ao Senado.
- “Se fui o mais votado, significa que, pelo
Brasil inteiro, o trabalho que tenho realizado no Senado tem sido muito
positivo. Quero mandar um abraço ao presidente do meu partido, Rui Falcão, que,
há dez dias, fez um comentário surpreendente para mim dizendo que quem sabe o
PT poderia abrir mão da minha candidatura para compor com outro partido, como o
PMDB, o PSB e o PSD. Agora, com esse resultado, será bom que o Rui Falcão faça
prévias”, afirmou o senador em entrevista ao Congresso em Foco, na
noite do último dia 8, logo após receber o prêmio de melhor senador.
Moeda
de troca
Após
conquistar pela terceira vez a prefeitura de São Paulo, com o estreante
Fernando Haddad, o PT mira agora um posto inédito no estado: o governo paulista,
mantido há quase duas décadas pelos tucanos. Em troca de apoio para a corrida
ao Palácio dos Bandeirantes, a cúpula petista está disposta a sacrificar
Suplicy, que é senador pelo PT desde 1991. A idéia do partido é ceder a cadeira
no Senado para ampliar o leque de alianças. Cogita abrir mão de lançar Suplicy
ou qualquer outro petista para apoiar algum aliado preferencial, como o
deputado Gabriel Chalita (PMDB) ou o prefeito paulistano, Gilberto Kassab
(PSD), na corrida ao Senado em 2014. Pesa contra Suplicy o fato de, sendo um
parlamentar mais independente, nem sempre seguir as orientações da direção
partidária.
- “Como em 2014 só tem uma vaga para o
Senado, é provável que seja usada para uma composição”, disse Rui Falcão
Em entrevista à Radioweb e ao Congresso em Foco, Suplicy disse não ser contra,
em princípio, à tese de uma composição, desde que a decisão de abrir mão da
vaga seja algo feito de forma transparente, discutida democraticamente dentro
do partido, e não apenas uma ordem dada pela cúpula:
- “Se for para fazer composição, que se faça
de maneira aberta”.
Assim,
o senador defende a realização de prévias, que poderiam ser disputadas não
apenas por petistas, mas também por aliados de outros partidos que aspirassem à
vaga numa composição. Dessa forma, o processo de escolha incluiria a militância
não apenas do PT, mas também dos partidos aliados que viessem a se coligar nas
eleições estaduais.
Exemplo
francês
- “Vamos supor que o PT, o PMDB, o PSB e o PSD
façam uma prévia, por exemplo, entre mim, Chalita, Kassab e alguém do PSB.
Minha proposta é que seja uma prévia aberta a todos os filiados aos nossos
partidos e ao povo, a exemplo do que o Partido Socialista francês fez”, defende.
Na
França, o atual presidente, François Hollande, chegou ao poder após vencer,
inicialmente, outros quatro correligionários do Partido Socialista, em prévias
realizadas em dois turnos de votação. Cerca de 3 milhões de pessoas votaram na
eleição interna do partido para definir o candidato que, meses depois,
derrotaria o então presidente Nicolas Sarkozy. Participaram da votação não
apenas os 200 mil filiados ao Partido Socialista, mas também eleitores
franceses simpáticos à legenda que se dispuseram a doar um euro para a
realização das prévias.
Ditadura
petista
Rui
Falcão, porém, resiste às prévias. Ainda de acordo com o Valor Econômico, o
presidente nacional do PT defende que o partido priorize a escolha de
candidatos por consenso.
- “Primeiro, a busca de acordo. Segundo,
a realização de disputa no âmbito do encontro de filiados, e por último, a
realização de prévias”, afirmou. O Congresso em Foco procurou Falcão
para ouvi-lo a respeito das declarações de Suplicy, mas não teve retorno até a
publicação desta reportagem.
Ecos
do mensalão
Em seu
terceiro mandato no Senado, Suplicy foi o primeiro senador a se eleger pelo PT,
em 1990. Na última disputa de que participou, em 2006, foi reeleito com 8,9
milhões de votos (47,82% dos votos válidos). A postura de independência por
vezes demonstrada pelo senador em relação ao próprio PT e ao governo petista
incomoda setores hegemônicos do partido. Ele assinou, por exemplo, a CPI dos
Correios quando a bancada ainda resistia a apoiar a abertura das investigações
em 2005.
No
discurso que fez logo após ser anunciado como o grande vencedor do Prêmio
Congresso em Foco, entre os senadores, Suplicy não fugiu do tema do mensalão,
cujo processo se encontra em fase final de julgamento no Supremo Tribunal
Federal (STF).
- “Tenho, à luz de
tudo o que aconteceu com meu partido, proposto que passemos a dar transparência
em tempo real a todas as contribuições de pessoas jurídicas e físicas, para que
na hora em que o eleitor escolher um candidato saiba como ele foi financiado.
Transparência e compromisso para que não haja recurso não contabilizado,
democratização e aperfeiçoamento na escolha dos candidatos, para o Legislativo
e o Executivo, a exemplo do que se passa nos países que mais avançaram para
democratizar sua forma de escolha”, defendeu.
Emotivo
No
último dia 9 de outubro, Suplicy chorou em plenário ao ler a carta assinada por
Miruna Genoino, filha do ex-deputado José Genoino, em defesa do pai,
ex-presidente nacional do PT e um dos condenados pelo Supremo.
- “Fui companheiro do Genoino por muitos anos,
conheço a família dele. Conheço a seriedade com que ele procurou levar a sua
vida pública, e imaginei o quão dolorido foi para a filha dele ver tudo o que
se passou. Não imaginei que eu fosse ficar tão comovido, como aconteceu”,
disse o senador.
- “Espero que os ministros do Supremo Tribunal
Federal, quem sabe, possam definir alguma pena alternativa que faça sentido
para todos os envolvidos e para o povo brasileiro”, acrescentou.
O
prêmio
Em sua
sétima edição, o Prêmio Congresso em Foco tem como objetivo estimular o cidadão
eleitor a seguir de perto, e de modo permanente, as atividades do Legislativo.
A ideia é fiscalizar e acompanhar tanto para dar puxões de orelhas na maioria
que nos decepciona na arena legislativa, mas também para valorizar quem sabe
honrar o voto que recebeu nas urnas.
Fonte: Correio de notícias
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