Joaquim Caxias com sua filha e sua esposa já falecida |
Dando sequência aos nossos homenageados, estaremos falando de um homem que muito contribuiu, de forma direta e indireta para o desenvolvimento de nosso município, lembrado não por ser idoso ou fazer média, mais pelo fato de se tratar de um ser de boa índole, dedicado a família, íntegro, honrado, enfim, vamos falar de Joaquim Caxias da Silva "Seu Caxias", natural de Angicos, região Litorânea do Rio
grande do Norte. nasceu no dia
02 de outubro de 1923, saiu de sua cidade em 1939, quando tinha 16 anos, e
chegou ao Acre em 1940 após trabalhar alguns meses nas cidades de Fortaleza,
Belém e Manaus. Joaquim Caxias é um dos poucos que teve a oportunidade de
voltar a terra natal e ainda encontrar algumas pessoas da família. A seguir seu
depoimento.
“A nossa vinda para o Acre deu-se principalmente devido à grande seca que sofríamos no Nordeste. Suportamos dois anos o sofrimento da falta de água, mas fomos obrigados a sair do interior onde morávamos e nos mudar para o Agreste. Permanecemos um tempo lá trabalhando braçal e depois mudamos novamente para a Capital onde chegou o alistamento para vim para o Amazonas, ninguém falava em Acre só em Amazonas.
Embarcamos na capital Natal, no navio Itapé às sete horas da noite e às sete horas do outro dia viajamos. Nossa viagem foi muito arriscada, fomos perseguidos por submarinos, passamos a noite com o navio encalhado, no dia seguinte chegaram dois distróia americano, seguido de um avião chamado zepilinho que nos acompanhou até Fortaleza.
Fomos de Fortaleza para Belém e lá passamos dois meses, esse tempo que ficamos lá, fiquei trabalhando em uma cerâmica de borracha. Depois disso, embarcamos no navio Almirante Alcerguai para ir até Manaus. Chegando lá, nos hospedamos na “Hospedaria Pensador”, onde fiquei um mês trabalhando, lembro-me que estava justamente nesta hospedaria quando completei 17 anos, e lá fomos listados para vim para o Seringal São Pedro, não sabíamos nada sobre esse lugar, quem nos trouxe foi Jose Afonso do Nascimento , um amazonense.
Embarcamos num gaiola Aimoré e chegamos em Eirunepé, onde fizemos uma baldeação para a Chata Paraíba e nela chegamos até a Foz do Envira, onde estava o patrão que representava o seringal São Pedro. Um seringal abandonado há 35 anos, não sabíamos nem conhecíamos nada, logo fomos chamados de “brabos”. Trabalhamos um bom tempo na foz do Envira, tirando lenha para o navio que nesse tempo queimavam lenha. Depois de concluir o serviço nosso patrão mandou um senhor por nome Gilmar, nos levar até o seringal, aonde chegamos por volta de três horas da tarde, debaixo de uma grande chuva, que demorou até umas sete horas da noite, pegamos a chuva todinha, não tínhamos uma lona sequer para nos abrigar e esconder da chuva. Um dos rapazes que estava com a gente tinha um terçado e um machado sem gume e com eles tiramos palhas de toda espécie, até palha com espinho, porque não conhecíamos nada. Oito horas da noite estávamos com uma lanterna, procurando um cantinho para ficar debaixo e atar as redes. Depois de três dias chegou um enviado do nosso patrão, trazendo uma pedra de amolar e os terçados pra gente fazer um serviço junto com ele. Era um galpão de 25 metros, para acumular as 80 famílias. Ainda não tinha chegado todo mundo, nós éramos os “avulsos”, chamados assim, porque éramos solteiros, fizemos o galpão e depois chegou o patrão com o restante do povo. Foi quando começamos a cortar seringa, e aí, começou a adoecer e morrer gente. Eu fui um dos tais, só em impaludismo foi um ano, quase não fico bom. Muitas vezes por causa dessa doença, caía pela estrada enquanto cortava seringa e quando despertava estava todo mordido por uma formiga chamada taioca. Chegava em casa, tomava um gole de café e voltava de novo para cortar, no final da tarde chegava com o leite jogava no defumador, quando o companheiro chegava da estrada eu já estava caído, ele terminava de defumar, fazia a janta e eu não aguentava mais nem levantar. Fiquei assim durante muito tempo, mas graças a Deus não tive a má sorte de morrer à míngua como muitos de nossos companheiros.
Quando sai de minha terra pensei que iria para a guerra, foi pra isso que me alistei, mas não foi possível, os que tinham quer ir já tinham ido e por isso resolvi vim pra cá. Falavam pra nós que teríamos os mesmos direitos dos que foram para a guerra, isto é, se viesse para o Amazonas como soldado da borracha, pois os que foram para a guerra nem chegaram a batalhar, voltaram antes de chegar lá. Quando eu soube que a guerra já tinha terminado, eu já tava cortando seringa, as notícias demoravam muito pra chegar naquela época. Pensei em voltar depois de anos de trabalho, mas como fiquei doente não consegui fazer borracha para o tanto determinado como eu desejava para poder voltar a minha terra. A partir daí, organizei minha vida casei, construí uma família de 9 filhos e mais 4 adotivos e depois de quase 40 anos sem notícias de minha família, com a ajuda de minha filha mais nova, que comovida com minha história de vida, prometeu ajudar a encontrar minha família.
Eu sempre gostei de ouvir um programa na rádio da cidade de Quito – Equador e certo dia, estávamos ouvindo o programa quando falaram o endereço da Igreja Católica de minha cidade natal – Angicos, minha filha rapidamente anotou o endereço e teve a ideia de mandar uma carta contando minha história e pedindo ao padre que fizesse a leitura na missa pedindo que se um dos presentes conhecessem minha família, avisassem a eles que me escrevessem, minha irmã estava lá e para minha felicidade não demorei muito a receber uma resposta, uma carta enviada por ele contando da felicidade que tinha sido, de como passou mal com o susto e alegria e me falando das notícias boas e ruins, fui quando descobri que não tinha mais pai e mãe já tinham falecido. Mesmo assim, minha vontade de voltar a minha terra aumentava a cada vez que recebia uma carta de minha irmã pedindo que eu fosse visita-la, pois ela sendo mais velha que eu não podia vir me visitar. Nunca saiu do meu coração essa vontade, mas minha esposa vivia doente há muitos anos, desenganada dos médicos e eu não conseguia economizar o necessário para realizar esse sonho. Em janeiro de 2008, fiquei viúvo e com o falecimento de minha esposa, com a qual vive casado durante 60 anos, veio mais forte ainda a vontade de voltar a minha terra, e minha única filha junto com seu esposo e uma ex-nora que tenho como filha, me incentivaram e me ajudaram a realizar esse sonho.
70 anos depois seu Caxias volta a terra natal e encontra uma irmã e sobrinhos
“A nossa vinda para o Acre deu-se principalmente devido à grande seca que sofríamos no Nordeste. Suportamos dois anos o sofrimento da falta de água, mas fomos obrigados a sair do interior onde morávamos e nos mudar para o Agreste. Permanecemos um tempo lá trabalhando braçal e depois mudamos novamente para a Capital onde chegou o alistamento para vim para o Amazonas, ninguém falava em Acre só em Amazonas.
Embarcamos na capital Natal, no navio Itapé às sete horas da noite e às sete horas do outro dia viajamos. Nossa viagem foi muito arriscada, fomos perseguidos por submarinos, passamos a noite com o navio encalhado, no dia seguinte chegaram dois distróia americano, seguido de um avião chamado zepilinho que nos acompanhou até Fortaleza.
Fomos de Fortaleza para Belém e lá passamos dois meses, esse tempo que ficamos lá, fiquei trabalhando em uma cerâmica de borracha. Depois disso, embarcamos no navio Almirante Alcerguai para ir até Manaus. Chegando lá, nos hospedamos na “Hospedaria Pensador”, onde fiquei um mês trabalhando, lembro-me que estava justamente nesta hospedaria quando completei 17 anos, e lá fomos listados para vim para o Seringal São Pedro, não sabíamos nada sobre esse lugar, quem nos trouxe foi Jose Afonso do Nascimento , um amazonense.
Embarcamos num gaiola Aimoré e chegamos em Eirunepé, onde fizemos uma baldeação para a Chata Paraíba e nela chegamos até a Foz do Envira, onde estava o patrão que representava o seringal São Pedro. Um seringal abandonado há 35 anos, não sabíamos nem conhecíamos nada, logo fomos chamados de “brabos”. Trabalhamos um bom tempo na foz do Envira, tirando lenha para o navio que nesse tempo queimavam lenha. Depois de concluir o serviço nosso patrão mandou um senhor por nome Gilmar, nos levar até o seringal, aonde chegamos por volta de três horas da tarde, debaixo de uma grande chuva, que demorou até umas sete horas da noite, pegamos a chuva todinha, não tínhamos uma lona sequer para nos abrigar e esconder da chuva. Um dos rapazes que estava com a gente tinha um terçado e um machado sem gume e com eles tiramos palhas de toda espécie, até palha com espinho, porque não conhecíamos nada. Oito horas da noite estávamos com uma lanterna, procurando um cantinho para ficar debaixo e atar as redes. Depois de três dias chegou um enviado do nosso patrão, trazendo uma pedra de amolar e os terçados pra gente fazer um serviço junto com ele. Era um galpão de 25 metros, para acumular as 80 famílias. Ainda não tinha chegado todo mundo, nós éramos os “avulsos”, chamados assim, porque éramos solteiros, fizemos o galpão e depois chegou o patrão com o restante do povo. Foi quando começamos a cortar seringa, e aí, começou a adoecer e morrer gente. Eu fui um dos tais, só em impaludismo foi um ano, quase não fico bom. Muitas vezes por causa dessa doença, caía pela estrada enquanto cortava seringa e quando despertava estava todo mordido por uma formiga chamada taioca. Chegava em casa, tomava um gole de café e voltava de novo para cortar, no final da tarde chegava com o leite jogava no defumador, quando o companheiro chegava da estrada eu já estava caído, ele terminava de defumar, fazia a janta e eu não aguentava mais nem levantar. Fiquei assim durante muito tempo, mas graças a Deus não tive a má sorte de morrer à míngua como muitos de nossos companheiros.
Quando sai de minha terra pensei que iria para a guerra, foi pra isso que me alistei, mas não foi possível, os que tinham quer ir já tinham ido e por isso resolvi vim pra cá. Falavam pra nós que teríamos os mesmos direitos dos que foram para a guerra, isto é, se viesse para o Amazonas como soldado da borracha, pois os que foram para a guerra nem chegaram a batalhar, voltaram antes de chegar lá. Quando eu soube que a guerra já tinha terminado, eu já tava cortando seringa, as notícias demoravam muito pra chegar naquela época. Pensei em voltar depois de anos de trabalho, mas como fiquei doente não consegui fazer borracha para o tanto determinado como eu desejava para poder voltar a minha terra. A partir daí, organizei minha vida casei, construí uma família de 9 filhos e mais 4 adotivos e depois de quase 40 anos sem notícias de minha família, com a ajuda de minha filha mais nova, que comovida com minha história de vida, prometeu ajudar a encontrar minha família.
Eu sempre gostei de ouvir um programa na rádio da cidade de Quito – Equador e certo dia, estávamos ouvindo o programa quando falaram o endereço da Igreja Católica de minha cidade natal – Angicos, minha filha rapidamente anotou o endereço e teve a ideia de mandar uma carta contando minha história e pedindo ao padre que fizesse a leitura na missa pedindo que se um dos presentes conhecessem minha família, avisassem a eles que me escrevessem, minha irmã estava lá e para minha felicidade não demorei muito a receber uma resposta, uma carta enviada por ele contando da felicidade que tinha sido, de como passou mal com o susto e alegria e me falando das notícias boas e ruins, fui quando descobri que não tinha mais pai e mãe já tinham falecido. Mesmo assim, minha vontade de voltar a minha terra aumentava a cada vez que recebia uma carta de minha irmã pedindo que eu fosse visita-la, pois ela sendo mais velha que eu não podia vir me visitar. Nunca saiu do meu coração essa vontade, mas minha esposa vivia doente há muitos anos, desenganada dos médicos e eu não conseguia economizar o necessário para realizar esse sonho. Em janeiro de 2008, fiquei viúvo e com o falecimento de minha esposa, com a qual vive casado durante 60 anos, veio mais forte ainda a vontade de voltar a minha terra, e minha única filha junto com seu esposo e uma ex-nora que tenho como filha, me incentivaram e me ajudaram a realizar esse sonho.
70 anos depois seu Caxias volta a terra natal e encontra uma irmã e sobrinhos
Seu Caxias com sua irmã, Felizes pelo reencontro |
Em maio de 2009, me
organizei, vendi alguns bens que me restavam e fui ver minha irmã e vários
sobrinhos. Visitei vários lugares que brinquei durante minha infância e por
onde andei junto com meus pais, foram não diferente do que pensei, momentos
emocionantes e inesquecíveis. Recordar tudo que vivi na minha infância foram
momentos de glória. Agradeço muito a Deus, a minha filha e meu genro (Socorro e
Joaquim) e a minha ex-nora (Conceição) que me acompanhou nessa viagem e cuidou
com muito carinho de mim”.
SAÚDE DEBILITADA
No dia 31 de março de 2011, ele sofreu um derrame e não tendo se recuperado até
hoje sofre de Mal de Alzheimer tendo dificuldades para reconhecer os
amigos e inclusive os familiares, situação que lhe priva de recontar suas
bonitas histórias e relembrar um passado cheio de dor, sofrimentos, mas
principalmente muitas vitórias, conquistas e trabalhos realizados não apenas na
labuta da vida mas incansavelmente para o Deus da sua vida.
O CERTO É QUE ESSE É MAIS UM QUE ADOTOU TARAUACÁ PARA FAZER HISTÓRIA NESSE CENTENÁRIO.
AGRADECIMENTOS A SÁRIA CAXIAS PELAS INFORMAÇÕES.
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