Polícia Militar de Tarauacá atua com 66 oficiais; média é de um policial para cada 200 habitantes (Foto: Duaine Rodrigues/G1) |
Na cidade de Tarauacá, situada no
interior do Acre, a cerca de 453 km da capital do estado,Rio Branco,
a falta de opções para a prática de atividades de lazer e cultura é observada
como o principal fator para o envolvimento de jovens adolescentes com a
criminalidade. Em 2013, dos quatro homicídios registrados no município, três
foram praticados por adolescentes.
A situação é observada com
cautela pelas autoridades de segurança, que demonstram preocupação com o futuro
da população jovem. Para o comandante da Polícia Militar da cidade, major Luiz
Gonzaga, por exemplo, a desordem social que existe com relação as famílias é o
maior motivador para a prática de atos infracionais pelos jovens. Além disso,
ele destaca a questão cultural.
"O problema é a estrutura da
cidade. Faltam opções de lazer e cultura. O povo gosta de usar arma branca na
cintura. No bairro da Praia, que era o grande gargalo, começamos a colocar
policiamento 24 horas. Não tivemos nenhum homicídio naquela comunidade, mas
tivemos em locais onde não havia histórico de violência", comenta.
Segundo o major, atualmente 66
policiais militares atuam no município, uma média de um para cada 200
habitantes. Para ele, apesar do alto índice de participação de jovens em
práticas criminosas, a criminalidade está sendo controlada aos poucos.
"Através de ações de
repressões tentamos controlar a criminalidade. A violência abrange não só
homicídio, que é o principal indicador, mas tentativa de homicídio, ameaça,
arrombamento, furto. Tarauacá está dentro de uma tranquilidade", avalia Luiz
Gonzaga.
Questionado se a prática de
tráfico de drogas é comum na cidade, major Gonzaga ressalta que a maior parte
das apreensões realizadas tem como produto apreendido o oxidado de cocaína.
"O tráfico sempre vai
existir porque estamos em uma área de fronteira. Esse ano apreendemos cerca de
10 kg de entorpecentes. Temos uma relação muito boa com outros órgãos de
segurança para combater o tráfico", comenta.
Segundo ele, desde o mês de
novembro do ano passado, Polícia Militar, Polícia Civil, Poder Judiciário e
Ministério Público Estadual começaram a fazer grandes operações para combater o
tráfico de entorpecentes e os receptadores de furto.
"Através dessas ações
começamos a colher frutos. Tivemos 100 dias sem registrar nenhum caso grave na
cidade. Há essa continuidade e a preocupação da PM e da Polícia Civil em
controlar o foco da criminalidade", destaca Luiz Gonzaga.
Promotor Rolim diz que cidade precisa investir em espaços de cultura e lazer e em oportunidade para os jovens (Foto: Duaine Rodrigues/G1) |
'Índices socioeconômicos são
ruins', diz promotor
O promotor de Justiça da Comarca deTarauacá, Luis
Henrique Correia Rolim, está há quatro meses no município, mas já conseguiu
fazer um diagnóstico da situação da segurança. Assim como o major da PM, o
promotor ressalta que a cidade não oferece muitas opções para os adolescentes,
para os jovens.
"O grande problema é que os
índices socioeconômicos são ruins. Durante um bom tempo a cidade não teve os
investimentos que deveriam ter sido aplicados na área esportiva, cultural, não
há oportunidades econômicas de trabalho. Agora que estamos começando a ver alguma
coisa sendo feita. Combinado com outro fator, que é a possibilidade da estrada
(BR-364) promover a ligação com Rio Branco e Cruzeiro do Sul, a cidade vem
melhorando, vem chegando o progresso, pode-se dizer assim, mas também os
malefícios, como a entrada da droga", analisa.
Rolim acredita que todos os
fatores atrelados acabam resultando em um histórico de muito envolvimento com
drogas, álcool e jovens sem perspectivas.
O coquetel mortal daqui é droga,
álcool e arma branca"
Luiz Henrique Correia Rolim,
promotor de Justiça
"Temos um presídio (Moacir
Prado) feito para comportar 80 presos com mais de 200. Os adolescentes, quando
são internados por cometerem alguma infração, são encaminhados para o Instituto
Socioeducativo Feijó. As mulheres presas são enviadas para Cruzeiro do Sul e as
adolescentes para Rio Branco. Vemos uma marginalidade entre os adolescentes
muito grande, grupos já formados. Crimes bárbaros praticado por esses jovens. O
coquetel mortal daqui é droga, álcool e arma branca", afirma.
O promotor considera a estrutura
de policiais do município precária, tanto da Civil quanto da Militar. Atuando
sozinho na comarca, ele diz que tem buscado contato próximo com as duas
instituições e vê a necessidade do Ministério Público estar na rua.
"Faltam agentes. Tenho
buscado um contato muito próximo a PM e a Polícia Civil. Estou sempre reunindo
com os delegados, com o comando da PM visando orientar porque a criminalidade
chegou em um nível insuportável", declara Luis Rolim.
Em 2012, foram registrados 19
homicídios em Tarauacá. Na cidade vizinha, Feijó, que tem
praticamente o mesmo tamanho, foram cinco, segundo o promotor. Este ano,
recentemente, Rolim decidiu levar para a cidade a campanha 'Conte até 10',
emplacada pelo Ministério Público.
"Trouxe porque ela tenta
evitar aqueles chamados crimes de ímpeto ou de impulso. E os crimes que tiveram
esse ano aqui, principalmente os adolescentes estão envolvidos com isso. Estou
começando a imaginar medidas para responsabilizar os pais, porque os filhos que
reiteradamente estão se envolvendo é sinal de que os pais estão falhando em
alguma coisa. A reincidência é muito grande. Muitos já foram internados, duas,
três vezes", diz o promotor.
Fonte: G1.com
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