BRASÍLIA: Após ver o Tribunal
Superior Eleitoral sepultar sua Rede Sustentabilidade, a ex-senadora Marina
Silva, segunda colocada nas pesquisas da disputa presidencial, reuniu-se com
cerca de 20 aliados mais próximos em um encontro de seis horas que varou a madrugada
desta sexta-feira e ouviu apelos tanto para ser candidata por uma nova legenda
- o que a obrigaria a filiar-se até amanhã - quanto para adiar o projeto
presidencial para 2018 e insistir na criação da Rede. Os presentes chegaram a
apresentar uma série de partidos que teriam oferecido legenda à senadora, mas o
debate polarizou-se entre a possibilidade de migrar para o PPS ou o PEN. Ao
deixar o local às 5h, bem-humorada, a ex-senadora recusou-se a comentar o
conteúdo do encontro e destacou que a decisão final só será anunciada no início
desta tarde, em Brasília, após um novo encontro - agora oficial - com
militantes da Rede.
Um dos únicos momentos em que foi possível, de fora do prédio, ouvir a posição
de Marina deu-se por volta das 2h15. Ao retomar a palavra e novamente agradecer
a participação de todos os presentes, a ex-senadora defendeu a necessidade de
adoção de uma posição de coerência.
- Queremos uma construção que
coloque em primeiro lugar a coerência - afirmou.
Ao deixar o prédio, horas depois,
ela confirmou ser esse o cerne da decisão que tomará:
- Isso é o que vocês mais ouvem
eu falar, é quase um mantra. Vocês acham que eu ia ter uma crise de
incoerência?
Mas nem mesmo os presentes sabem
dizer o que essa coerência significará. Isso porque ao mesmo tempo em que a
senadora disse colocar os interesses do país à frente dos interesses pessoais,
houve severas críticas ao eventual ingresso no PPS - pelo fato de sua bancada
ter votado majoritariamente a favor do Código Florestal - ou no PEN - cujos
caciques seriam figuras sem trajetória conhecida, cujo passado é uma incógnita.
Ainda assim, o grupo dos que defenderam a candidatura ainda em 2014, segundo um
dos presentes, seria ligeiramente maior. A preocupação, no entanto, é que na
negociação com as novas legendas ela assegure que terá o controle da campanha.
Independente dessa decisão, a única certeza é que o projeto de criação da Rede
como partido político continuará.
- Estamos analisando a situação.
Tem muitas questões a serem avaliadas e muitas providências a serem tomadas na
continuidade da Rede. Não havíamos discutido alternativas caso o TSE rejeitasse
o pedido de registro. Portanto, agora estamos discutindo. Nós construímos até aqui
algo muito importante e novo. E isso só é possível porque tem uma outra coisa
que dá sustentação que é a credibilidade e a coerência. Qualquer decisão para
frente tem de levar em consideração a credibilidade e a coerência em relação a
uma nova política - destacou o coordenador-executivo da Rede, Bazileu
Margarido, no fim do encontro.
A reunião que varou a madrugada
começou logo após a sessão do TSE, por volta das 23h de ontem. O encontro,
ocorrido no apartamento de uma amiga de Marina, na Asa Sul de Brasília, foi
marcado por fortes posições em defesa das duas teses - a favor e contra a
candidatura - e teve momentos de tensão, com um bate-boca entre Marina e um de
seus mais antigos aliados, o deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ). Além de
Sirkis, outros três parlamentares estavam presentes: Miro Teixeira (PDT-RJ),
Reguffe (PDT-DF) e Walter Feldman (sem partido-SP). Os quatro deputados foram
unânimes na defesa de que Marina seja candidata ainda no próximo ano.
Foi justamente ao defender esse
ponto que, por volta de 1h30m, Sirkis entrou em conflito com a ex-senadora. Ao
contrário dos parlamentares, uma parte significativa dos militantes
posicionava-se contrariamente à candidatura alegando que Marina seria
constrangida pela imprensa a responder por eventuais desvios de conduta que
integrantes dessas legendas cometam, o que poderia sujar sua biografia. Segundo
um dos presentes, Sirkis começou a rebater esse argumento alegando que a
própria Rede não era perfeita e tinha entre seus quadros pessoas progressistas,
de extrema esquerda e também "evangélicos de direita". Foi quando
Marina rebateu questionando:
- Quem é evangélica aqui sou eu.
Então sou de direita?
Sirkis então se insurgiu e fez
uma série de críticas à demora de se tomar a decisão de criar a Rede e, naquele
momento, à nova demora em definir sua posição sem compreender que as
dificuldades enfrentadas pelos parlamentares que a auxiliaram em seu projeto
colocando em risco sua situação em suas atuais legendas e suas perspectivas
eleitorais. Irritado, o deputado verde deixou o prédio aceleradamente, negou-se
a dar entrevistas e disse que estava indo para o Rio.
Apesar de também terem
acompanhado a sessão do TSE com Marina, outras duas figuras de proa da nova
legenda, o deputado federal Domingos Dutra (PT-MA) e a vereadora Heloísa Helena
(PSOL-AL), não seguiram com o grupo para o debate sobre o futuro da ex-senadora
e da Rede. A tendência é que Dutra anuncie ainda hoje sua migração para o
Partido Solidariedade. Sirkis pode permanecer no PV, mas também conversa com o
PSB, assim como Miro Teixeira, que pode ficar no PDT, mas foi sondado pelo
novato PROS. Reguffe, por sua vez, deve permanecer no PDT.
Segundo relatos de pessoas
presentes, a senadora ouviu muito mais do que falou. No início do encontro fez
um longo agradecimento a todos os presentes pelo esforço na coleta de
assinaturas e destacou o fato de todos os ministros do TSE terem elogiado a lisura
do pedido, ainda que no fim o número de assinaturas tenha sido insuficiente. Os
presentes, no entanto, se alongaram na defesa de suas posições, o que levou a
própria senadora a pedir em vários momentos para que tivessem "poder de
síntese".
Fonte: OGlobo.globo.com
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