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terça-feira, 19 de agosto de 2014

TURISTAS VIAJAM OITO HORAS DE BARCO PARA PARTICIPAR DO II MARIRI YAWANAWÁ

Enfeitado com pinturas corporais e artesanatos indígenas, o investidor Luiz Felipe Zanette, de 36 anos, só não é confundido com os moradores da aldeia Mutum, localizada na Terra Indígena do Rio Gregório, próximo a Tarauacá (AC), devido a sua aparência física. Branco, com a cabeça raspada e olhos claros, ele se destaca entre as pessoas. O visitante decidiu 'fugir' de Florianópolis para visitar aldeias no Acre e participar do II Mariri Yawanawá, realizado entre 10 e 15 de agosto.
Ele percorreu os 400 km entre a capital acreana e a cidade de Tarauacá, de onde viajou mais uma hora de carro até a Vila São Vicente, às margens do Rio Gregório. Depois teve que enfrentar uma viagem de oito horas de barco até a aldeia Mutum. Mas essa não é a primeira vez que o turista participa de um festival indígena.
Zanette conta que a primeira vez que esteve na Terra Indígena do Rio Gregório foi em 2011, quando conheceu o Festival Yawa, realizado anualmente na aldeia Nova Esperança. “Participei do festival e gostei muito, fiz boas amizades e me planejei para voltar”, afirma.
Ele saiu de Florianópolis no dia 26 de junho e antes de chegar à Aldeia Mutum viveu por 15 dias em outra aldeia acreana, próxima a cidade de Jordão, além de aproveitar a viagem para conhecer o Peru. “Visitei uma aldeia Hunikuin, que é de um índio que conheci em Florianópolis. Ele tinha me convidado para ir a aldeia dele, e eu fui tentar fazer tudo junto”, diz.
Para ele, a conexão com a natureza quando se visita uma terra indígena é inexplicável. “Não tem como explicar, eu estava dormindo na rede e ouvindo eles cantando, é um chamado forte, uma sensação de integração com a natureza que é difícil ter em outro lugar. É isso que eu sinto aqui”, comenta Zanette.

O músico e professor Tom Orgad é de Israel, mas atualmente mora em Rio Branco. Foi por meio do convite de um amigo indígena que ele foi visitar a aldeia. Diferente de Zanette, ele nunca tinha visitado uma terra indígena, apesar de conhecer alguns elementos da cultura.
“Como é a primeira vez que venho em uma terra indígena, achei tudo interessante. Já tinha contato, conhecia algumas coisas, escrevi minha pesquisa de doutorado sobre a ayahuasca, eu tinha um conhecimento parcial e limitado sobre essa cultura. Nunca tinha visto o local onde eles moram, mostram seus rituais, isso é muito interessante”, diz.
Os dois visitantes fazem parte de um grupo de pessoas que realizam o etnoturismo, no qual o viajante conhece de perto os costumes e cultura de um determinado povo, principalmente os povos indígenas. A secretária de Turismo do Acre, Rachel Moreira, explica que os festivais indígenas já são consolidados no estado e movimentam a cadeia produtiva do turismo.
“Os festivais, apesar de ocorrem nas aldeias, movimentam essa cadeia produtiva, porque esses turistas se hospedam nas cidades próximas, Tarauacá, Jordão, Marechal Taumaturgo. Eles impactam essa economia, ao se hospedarem, utilizar os serviços de barqueiro da região, sem contar que toda a estrutura da aldeia é feita a partir de comprar nos supermercados das cidades próximas”, afirma.
Dos seis festivais indígenas que existem no Acre, apenas três são abertos ao público, afirma a secretária. Criado em 2013, o Mariri limita o número de turistas. Dos 800 participantes do Mariri, apenas 5% era composto por não-indígenas, afirma a organização do festival.
Segundo Joaquim Taska, coordenador da Associação Sociocultural Yawanawa, apesar de serem vendidos pacotes turísticos através de empresas especializadas, o festival tem um caráter mais 'íntimo'. “Não temos muitos turistas”, afirma.
Para o cacique Biraci Brasil, da aldeia Nova Esperança, responsável pelo Festival Yawa, um dos mais tradicionais da Terra Indígena do Rio Gregório e famoso por receber turistas de todo o mundo, a presença de não indígenas não diminui as expressões culturais do povo, pelo contrário.
“Foi criado a ideia, durante os anos, de que a presença de pessoas estranhas causavam mudanças culturais e aquilo alterava e desequilibrava a nossa cultura e nosso dia a dia. Nós afirmamos que não, isso não é verdade. Quando alguém que vem de outro lugar, celebrar e partilhar com a gente, a presença da sociedade branca traz confiança e força de continuar em pleno século 21 a nossa cultura”, afirma.
Matéria: G1.com

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