Quinta
feira, 19 de abril – feriado nacional de Tiradentes – 14:30. Um das ruas do
mais luxuoso conjunto habitacional do Acre [Ipê ] está vazia, sem movimentação,
ao contrário do início dos anos 90, quando cada palmo nas imediações eram
disputados para o estacionamento de carros de luxos, que levavam a casa do
governador do Acre. Tinha fila até pra entrar e uma rigorosa revista policial
era feita naqueles que tentavam ultrapassar um pequeno portão situado no lado
direito da residência. Hoje, tudo mudou. Não há mais o frenesi do lado de fora,
carros só os que passam na rua ao lado e na casa só um homem e suas amarguras,
sem a grande movimentação de funcionários e de falsos amigos de quando tinha o
poder nas mãos.
Foi assim que a reportagem do ac24horas encontrou
o ex-governador Romildo Magalhães, sucessor de Edmundo Pinto
(assassinado em São Paulo, no Della Volpe hotel no exercício do
mandato). Magro, visivelmente abatido e sofrendo com a diabetes e problemas
cardíacos, ele próprio recebeu os editores Marcos Venícios e Ray Melo para contar um pouco de seus
dias desde que deixou o poder em 1995.
Com 69 anos completados no último dia 9 de abril, Romildo, com a voz
inicialmente tremula afirmou ao ac24horas que é
obrigado diariamente a tomar 18 tipos de comprimidos e 3 injeções de insulina,
antes do café, almoço e janta. Ele confidenciou a reportagem que não
conseguia enxergar com precisão os repórteres com quem está
conversando por causa do problema de visão ocasionado pela diabetes. “Eu só
vejo o vulto”, disse.
Cercado pela esposa Valmira [a terceira] e os filhos Héctor e Samara,
com certa dificuldade, o homem que foi considerado o mais poderoso do
Acre no inicio da década de 90 teve dificuldades para se acomodar na cadeira
localizada na varada da casa, local da entrevista.
Romildo não é mais o mesmo, como ele mesmo faz questão de frisar. Apesar
de ter se convertido ao evangelho a quase duas décadas e ter lançado oito CD’s
com testemunhos de vida e hinos, ele revela e demonstra uma mágoa muito grande
das pessoas a quem ele estendeu a mão enquanto governador, mas
que o esqueceram após sua saída do Palácio Rio Branco. Mesmo assim, o
ex-governador garante que já perdoou todos. Mas se sente incomodado pelas
injustiças que sofreu nos últimos anos.
Romildo Magalhães da Silva foi prefeito Feijó, em sua cidade natal, e
tornou-se governador do Acre em 17 de maio de 1992, com o assassinato de
Edmundo Pinto, do qual era vice. Governo até dezembro de 1994.
ENTREVISTA
ac24horas:
Como o senhor anda de saúde?
Romildo: Eu vou indo…tomo 18 pílulas e me aplicam três injeções de
insulina todos os dias. Eu tô com um problema nas pernas [neuropatia
diabética], não ando mais como antes, falta circulação, nem dirijo mais, tenho
problema na visão por causa da diabetes.
ac24horas:
Romildo, vamos tentar ir direto ao assunto… espero que o senhor esteja disposto
a falar, eu sempre ouço por ai que o seu governo foi um dos piores na questão
corrupção, o que o senhor tem a falar sobre isso
Romildo: Eu vejo que quando a pessoa
assume o cargo de governador, ele assume a responsabilidade de dar conta de
tudo, de cuidar e zelar pelo patrimônio. Eu tenho quase certeza absoluta que eu
cometi alguns erros, mas as minhas virtudes foram maiores. Fiz um governo sem
perseguição, sem maldade. Trabalhei até certo ponto discriminado pela bancada
federal que não me ajudou. Tentei de todas as formas buscar um entendimento,
mas não deu pra fazer tanto. Mas ta ai, tá feito o que o Romildo deu pra fazer,
usando recursos próprios do Estado, as minhas obras foram mais com recursos
próprios. E eu fiz o que pude pelo Acre. Assumi o Estado
num momento difícil, conturbado, mataram o governado titular, o
Edmundo Pinto, e eu tive que assumir.
ac24horas:
O fato de você ter assumido após a morte do Edmundo Pinto lhe trouxe muitos
problemas?
Romildo: Trouxe, porque eu não tive a
tranquilidade para escolher a minha equipe de governo. Mantive quase toda a
equipe do finado Edmundo Pinto de uma maneira, que eu não me diria prejudicado,
mas não tive a minha liberdade como chefe do executivo de escolher uma equipe
que pudesse me ajudar.
ac24horas:
O senhor acha que pelo fato de não ter tido a liberdade para escolher a nova
equipe, foi o seu principal erro?
Romildo: Sim, não tenho duvida disso. Mas
o que eu fico preocupado é que dizem por ai que houve muita corrupção, mas
porque que o Ministério Público não prendeu ninguém até hoje? Eu faço essa
pergunta, porque isso me deixa intrigado.
ac24horas:
Teve corrupção no seu governo?
Romildo: É o que dizem por ai. A oposição
na época, comandada pelo PT, sempre taxou isso, que meu governo era corrupto,
fizeram até juras para me jogar da ponte, mas graças a Deus minha consciência
sempre foi tranquila. Eu sai consciente e tranquilo do meu dever.
ac24horas:
O senhor tinha total controle do seu governo, como era sua relação com os
secretários?
Romildo: Eu não tinha a minha equipe na mão. Eu
confiei muito. Eu confiei de uma maneira que eu jamais deveria ter confiado e
foi cegamente. Eu dei liberdade pra caramba. Eu lembro do meu discurso de posse
lá na Eletroacre que eu disse que “eu não vou roubar e não vou deixar ninguém
roubar”. Eu não roubei, mas não sei se roubaram.
ac24horas:
O senhor não sabe?
Romildo: Quem deveria saber é o Ministério
Público.
ac24horas:
E até hoje, existe algum processo de quando o senhor foi governador?
Romildo: Existe processo de prestação de
contas, de alguns convênios, que também não fui eu que movimentei. Eu só
assinei o pelo lado inatitucionalda coisa, mas muitos dos meus
naquela época, como o Fernando Moitinho, hoje estão trabalhando com o PT. Eu
tenho que citar o nome porque eu tenho que citar. Aquele outro do planejamento
também, me esqueço o nome. Eu não sei porque não prestaram contas. Eu só sei
que a responsabilidade caiu sobre mim e hoje tô pagando caro. Já perdi todo o
meu patrimônio.
ac24horas:
O senhor perdeu muita coisa? O que o senhor tinha antes de ser governador,
ganhou mais ou perdeu mais?
Romildo: Quando eu não era governador eu
tinha a fazenda Felisbela, lá na estrada de Plácido de Castro. Quando era vice,
vendi a fazenda e comprei a chácara do Quinari e comprei o haras na
Transacreana. Eu tinha um apartamento em Fortaleza. Tudo isso antes de ser
governador. Tinha esse casa aqui do Ipê, que eu comprei quando fui deputado,
mas acharam que devia tomar tudo o que era meu.
ac24horas:
Porque tomaram?
Romildo: Tomaram alegando um monte de
coisa. Tomaram a minha chácara alegando uma questão de reforma agrária, só três
hectares. Engraçado que só tomaram a minha e de mais ninguém da região. Bem,
ainda não tomaram, mas é uma questão que está na justiça, espero que Deus me dê
vitória nisso. Já quando perdi o meu Aras, a juíza deu parecer a favor de um
cidadão. Eu só sei que quando mataram o Edmundo Pinto, devem terem dado a ordem
para matar o Romildo também. Eu sei que esse povo fez o diabo comigo para eu
perder até as calças.
ac24horas:
O senhor foi muito perseguido?
Romildo: Continuo sendo, rapaz. Todos
aqueles amigos, que se diziam amigos, me viraram as costas.
ac24horas:
Como era a movimentação da sua casa na época que o senhor era governador?
Romildo: Minha casa, durante o café da
manhã, tinha que servir a mesa umas oito vezes. As vezes era trinta, sessenta e
até 100 pessoas para tomar café, almoçar e jantar. Na hora do almoço não cabia
todo mundo em casa, tinha que distribuir o povo pelo terreiro. Eu me
decepcionei muito com o cargo de governador.
ac24horas:
Com a política ou com o cargo de governador?
Romildo: Com o cargo de governador. Você
perde muita liberdade, tem que fazer conchavo com esse negócio de partido,
porque senão o partido não apoia, não vota. Tem que dar secretaria tal, tem que
dar os cargos de confiança tais e tem que dar emprego…é um negócio complicado,
é uma exigência absurda.
ac24horas:
E se o senhor não desse nada disso que lhe pediam?
Romildo: Se não dá, vai pro pau! Agora eu
fui um governador, apesar de não ter tido formação superior e ter estudado só
até a quarta série, eu sou um cara, e graças a Deus, eu herdei muitas coisas de
meus velhos pais. Apesar de ser pobre, principalmente nos estudos, eu aprendi a
ser uma pessoa de caráter. Eu prometi como político e honrei. Cumpri
rigorosamente, mas me decepcionei muito. Eu busquei de todos os lados, usando
de todos os meios, para ter um bom relacionamento com o Ministério Público, com
o Tribunal de Contas , com o Tribunal de Justiça, com a Assembleia Legislativa,
mas infelizmente eu fico pensando como mudam as pessoas. Quando eu me lembro
que todo esse pessoal vivia dentro da minha casa, batendo tapinha nas minhas
costas… [neste momento ele faz uma pausa, coloca a mão na cabeça e gira o
pescoço de um lado para o outro num gesto que representa não]
ac24horas:
O senhor se sente esquecido?
Romildo: Me sinto esquecido. O homem só
vale o que tem. Eu hoje não valho mais nada não [Neste
momento o ex-governador fica emocionado e com dificuldade para
falar] Eu valho ainda alguma coisa para a minha mulher, para os
meus filhos, mas amigo eu não tenho mais.
ac24horas:
O senhor conta nos dedos os seus amigos?
Romildo: Contos nos dedos de uma mão só e
digo agora o nome de dois aqui: Coronel Jair e o Rocha que foi meu ajudante de
ordens, o resto desapareceu. Esses dois até hoje vem aqui na minha casa. No meu
aniversário, que foi no dia 9 de abril, eles estavam aqui festejando comigo,
comendo feijoada. O resto nem um telefonema para saber se eu já morri, faz.
Quem vale hoje para essa mesma turma é o Tião Viana. Quando ele sair do poder,
talvez ele vá passar pela mesma situação, mas Deus queira que não. O poder é
assim mesmo.
ac24horas:
E algum dia você chegou a procurar algum desses amigos que sumiram?
Romildo: Uma vez eu procurei “um amigo”,
me resguardo a citar o nome [a reportagem descobriu que o a
pessoa em questão é Zezé Gouveia que foi chefe de gabinete do ex-prefeito Irnad
Leite], para arrumar um emprego para um neto meu, o Fabricio. Tu me
acredita que ele me negou? O cara que eu ajudei quando eu era governador, hoje
ele é rico, rico mesmo, milionário, dei inclusive DAS para a mulher dele. Ele
me disse que não tinha como me ajudar e ainda tascou que o meu tempo era o
outro tempo. Ele falou que hoje é outro momento. Eu sai de lá com a cara e o
rabo entre as pernas.
ac24horas:
Isso lhe magoa muito?
Romildo: Magoa demais. A ingratidão é a coisa pior
que tem, meu irmão. Rapaz, se tu me faz o bem, eu não posso ter motivo para te
fazer mal. Tu me fez um bem, tu me prestou uma palavra amiga , isso pra mim
vale mais do que dinheiro. Essa palavra amiga desapareceu.
ac24horas:
Nesse período que o senhor foi detentor de poder, você se arrepende de alguma
coisa?
Romildo: Me arrependo de não ter escolhido o meu
governo, de não ter tomado as rédeas. Mas eu confiei em todos os meus
secretários, em toda a equipe de governo. Deixei todo mundo liberado para fazer
o melhor pelo Acre, a buscar as soluções para os problemas do Acre, mas
infelizmente foi ao contrário. Não deu certo não. Então eu me arrependo por
isso. Se eu tivesse segurado nas rédeas, eu vou te falar que o negócio tinha
sido melhor, mas ao mesmo tempo que não fico arrependido. O que eu fiz no Acre,
o cara tem que ser muito doido para fazer sem dinheiro. Só com o dinheiro dos
impostos, não vinha dinheiro de fora.
ac24horas:
Em relação a esses secretários que tiveram liberdade para trabalhar, hoje o
senhor mantém algum tipo de contato?
Romildo: Muito difícil. Quando eu passo por
perto no máximo rola um oi e pronto. Tem vez que eu vou me aproximar para
cumprimentar, o cara foge, vira as costas. Já tive perto de alguns
que aconteceu isso. É complicado, mas é a realidade.
ac24horas:
O que o senhor se orgulha mesmo do seu governo?
Romildo: Me orgulho por eu não ter roubado
e do meu programa favorito, o Sopão Enche o Bucho. Eu matei a fome de muitas
crianças e hoje estão todos adultos. Eu fico feliz demais. Eu encontro tanta
gente que me fala desse projeto, que falam que tomavam, que levava a panela.
Que aquela sopa era tão boa, que quando a pessoa chegava em casa, ela podia
colocar mais água que ela rendia para não sei quantas pessoas. Sem contar
também o programa de leite e pão que a gente dava no café da manhã para as
famílias carentes. Esses programas sociais me orgulham muito. Se eu fosse
governador novamente, que eu não quero mais nunca na minha vida, eu voltava com
essas coisas. [Na época quem fornecia o sopão era a empresa
do secretario da fazenda de seu governo, o empresário George Pinheiro, que num
período de 2 anos e meio conseguiu pagar um dívida milionário contraída por
empréstimos bancários]
ac24horas:
Então o senhor que fugir de política?
Romildo: Eu quero. Na verdade, eu só tenho
um candidato que é o Tião Viana. No Tião eu voto de qualquer jeito. Se ele
disser que não precisa do meu voto, ele vai ficar com raiva, mas eu voto de
novo. Só por um gesto de gratidão dele. Quando eu mais precisava de uma mão
amiga, nenhum dos meus “amigos” apareceram, nem mesmo meus ex-secretários. Só
apareceu a mão de Tião Viana, se colocando a minha disposição. Eu fui infartado
daqui para Goiás e ele me ofereceu para ir para o Incor, com a junta médica do
Dr. Jatene. Eu agradeci, mas não usei porque eu tenho plano de saúde, e foi
tudo pago direitinho, mas agora eu corro risco de perder esse plano, caso a
pensão seja cancelada. Mas foi um gesto bonito. A gente era adversário
político, mas ele era meu amigo. Ele era médico da minha falecida esposa, a
Toinha.
ac24horas:
Hoje o senhor tem contato com o atual governador?
Romildo: Não tenho porque eu evito para
não causar ciúmes ou problemas político para ele.
ac24horas:
Ciúme de quem?
Romildo: Dos próprios membros do PT. Eu não
quero causar nenhum constrangimento a ele para dizer por ai “ah, o Tião tá
recebendo o ex-governador Romildo Magalhães que era ladrão”. Eu não quero
passar por isso. Eu não procuro de jeito nenhum. Outro dia eu estava com um
problema ai para apresentar, uma reinvindicação, e eu fui por
intermédio do chefe de gabinete dele, mas eu não falei com ele. Só levei a
demanda. Mas as vezes, quando eu caminhava aqui pelo Ipê eu sempre o via e ele
me cumprimentava e na época da campanha a gente sempre se fala, se colocando a
disposição e pedindo voto. Eu sempre falo pra ele que pode deixar comigo, aqui
em casa todo mundo é Tião. Não vou deixar de votar nele nunca, não tem outra
coisa, é só por isso. Não é porque ele é bonito, bom administrador ou qualquer
outra coisa, mas sim pelo homem que ele é.
ac24horas:
E o PT?
Romildo: Eu não sou PT de jeito nenhum. Eu sou
Tião. Teve um dia que ele veio me pedir voto para o Jorge Viana, eu disse que
só votava nele, não no Jorge.
ac24horas:
E quando a gente fala em PT, resgatamos um pouco do passado, principalmente dos
seus opositores. Antes de vir aqui, eu fiz uma pesquisa onde o senhor afirmava
a sua pior opositora foi a então deputada Naluh Gouveia, que era do PT e hoje e
Presidente do Tribunald e Contas, como era isso, qual é o sentimento de hoje?
Romildo: Era Naluh mesmo, mas também tinha
a Marina, que era danada. Naquele tempo elas usavam mais maldade do que
verdade. Eu não era nada daquilo que eles pintavam de mim. Eles passavam de uma
forma totalmente fora do conceito. Eu era o cão pra eles. Eu não sei porque
isso. Não sei se foi porque vim de vereador, prefeito e deputado….pois na
história do Acre não existe ninguém que galgou todos esses cargos além de mim.
E isso tem mexido muito com as pessoas, não só com o PT não, mas com a maior
parte dos políticos do Acre. Imagina só; o cara que vem lá de Feijó, é vereador
três vezes, prefeito duas vezes, deputado duas vezes e chegou a ser governador,
com apenas um quarto ano do primário…
ac24horas:
O senhor se orgulha dessa sua trajetória?
Romildo: Ah, não tenha a menor dúvida. Me
orgulho e debito toda essa estrela a minha falecida mãe Mocinha Magalhães. A
minha mãe era política. Esse Acre não tem uma mulher desse nível e vai ser
muito difícil criar. Aquela ali era líder, sabia fazer liderança e não era com
dinheiro não. Minha mãe fazia liderança prestando serviço, ajudando, fazendo
bem, sem olhar a quem. Andando em ramal no inverno para pegar menino que estava
nascendo, ia curar outra que tinha sido picado por uma cobra.
ac24horas:
Pelo visto, você e sua família sempre foram focados ao assistencialismo, o
senhor acha que atualmente falta mais isso?
Romildo: Eu acho que hoje para se fazer uma
liderança política, o assistencialismo não faz mais não. Hoje o que vale mesmo
é o dinheiro.
ac24horas:
E Romildo, e naquela época que você foi governador, se o senhor tivesse acesso
a esses empréstimos que o atual governo tem, dava para ter mudado o Acre?
Romildo: Teria sido bem diferente.
Administrar igual a mim eu quero é ver. Eu digo que sou administrador porque eu
sou. Eu sou presente nas obras que eu fiz. Mesmo sem ter dinheiro eu tava lá,
olhando pedaço por pedaço das obras. Eu acompanhava. O pouquinho que tínhamos
estava lá sendo investido. Quando eu era prefeito de Feijó era a mesma coisa.
Quando o motorista do caminhão tava cansado, eu falava sai de cima que eu
dirijo. Eu ia puxar barro, puxar tijolo, puxar areia, trabalhar de manhã,
tarde, noite e madrugada. Eu fazia tudo isso. Se eu tivesse dinheiro, como os
outros tem por ai, meu irmão, as coisas teriam sido diferentes.
ac24horas:
O senhor se orgulha de ser honesto? Como o senhor sente quando alguém lhe taxa
de algo negativo?
Romildo: Eu me orgulho de ser honesto, não
tenha duvida. Eu não admito que ninguém tenha nem duvida da minha honestidade.
Tanto é que ta ai a prova, estou com 22 anos que deixei o governo e graças a
Deus minha vida está ai aberta Você não vai encontrar um real que não seja meu.
Lembrei agora de uma: Teve uma época que o Sergio Taboado e o Nilson Mourão
pediram para ir num banco da Suíça para saber se eu dinheiro lá. Eles
inventaram um história de um Hotel em Palmas, no Tocantins, que tinha 250
apartamentos e que era meu também. Disseram que eu era o Rei da Gasolina pois
tinha não sei quantos postos aqui. Tudo isso tramado, levantado pelo PT, mas
graças a Deus eu não tinha nada não. O que eu consegui na minha vida como
político, não foi como governador. Como governador, todo o salário que eu
tinha, eu ajudava os pobres.
ac24horas:
O senhor se arrepende disso, de ter ajudado as pessoas?
Romildo: Não me arrependo. Eu só sei que não
juntei nada. Pode MP pedir contas, extratos e o que quiser. Eu não
roubei nada. Durmo tranquilamente todas as noites.
ac24horas:
Como era a sua relação com a classe empresarial naquela época?
Romildo: O que tinha de obras para
dividir, eu dividia com os daqui, só os daqui. Era pouquinho, mas
todo mundo ficava satisfeito. Pode perguntar para esse pessoal da Federação da
Indústria.
ac24horas:
E por falar empresariado, quem foi George Pinheiro para o senhor?
Romildo: George Pinheiro foi bom. Para mim eu
achei que ele foi bom, mas eu fiquei até certo ponto precisando de algumas
explicações de algumas coisas, que na hora que eu mais precisei, ele não
compareceu. Ele deveria ter comparecido, ele, Abdel, Fernando Moitinho, todo
esse pessoal. Quando viram que eu estava respondendo todos os processos, os
atos de alguém que fez algo errado, ninguém se ofereceu. Eu quero dizer que as
coisas acontecem e a gente se decepciona com muitas coisas.
ac24horas:
Foram essas decepções que fizeram o senhor se aproximar mais de Deus?
Romildo: Sim, com toda a certeza. Eu sou
Evangélico há 17 anos, graças a Deus. Isso foi a transformação da minha vida
como homem cristão. Isso é o que me alimenta. Eu sou um homem alimentado. O que
o mundo tá me negando, que é o reconhecimento, que é a consideração, o
respeito, até certo ponto as amizades, eu tô recebendo lá de cima. Deus tem
sido maravilhoso em minha vida. Deus é bom e é bom demais. Eu fui curado de
certos problemas de saúde. Hoje eu sou um homem dedicado a Deus, a minha
família está sendo restaurada , então eu me considero um homem feliz. Essa
aproximação com Deus veio me segurar. Enquanto alguns jogam pedra, nós, eu e
minha família, estamos aqui nos defendendo espiritualmente, em oração.
ac24horas:
O senhor tem algum tipo de contato com a viúva de Edmundo Pinto, a dona Fátima
Almeida? Aliás, naquele momento da morte do governador, o senhor se tornou uma
pessoa próxima da família?
Romildo: Da família do Edmundo Pinto eu só
tinha contato com o seu Pedro Veras, o pai do governador. Nós sempre nos
comunicávamos, visitei ele algumas vezes na casa dele e também ele trabalhou
comigo até eu sair do governo, mas a Fatima mesmo eu não tive noticias. Não sei
nem se ela tá morando aqui ainda, mas é uma pessoa que sempre teve o meu
respeito, lamentei, dei condolências pela morte do Edmundo. Não era aquilo que
o Acre queria, não era isso que eu queria. Nós estávamos afinados, consciente
de que ele sairia candidato ao senado e eu assumiria o governo de qualquer
maneira.
ac24horas:
Em alguns momentos, você e o Edmundo tiveram divergências, correto?
Romildo: Sim. Mas foram problemas quando
ele escolheu umas pessoas da equipe dele, tipo o Pitiman, o Mario Emilio
Malaquias… falo em questão desse pessoal. Sempre fui contra. Eu dizia para ele
que esses caras iam estragar o governo. Eu acho que
estragou.
ac24horas:
O senhor acha que dentro do seu governo tinha muito fogo-amigo, as pessoas
mesmo da sua equipe trabalhavam contra o senhor?
Romildo: Hoje eu acho que tinha. Na época eu nem
imaginava, mas hoje eu penso que sim. Eu acho que tinha e me reservo a falar um
nome, mas todo mundo sabe, meus amigos sabem, minha família sabe que eu tive
várias ações na justiça e tive até como ganhar, mas eu perdi todas elas por
falta de cumprir prazos. E esse cara foi meu advogado e fez parte do meu
governo. Eu acho que ele fez de propósito, ele fez para acabar comigo. O motivo
eu não sei…e essas coisas nos decepcionam. Como o homem é pobre quando não tem
caráter, não tem personalidade. Como eu te disse, política pra mim, só é o Tião
Viana. No dia que ele não se candidatar mais, eu rasgo o titulo.
ac24horas:
Em nenhum momento o senhor pensou em ter um herdeiro político?
Romildo: Meus filhos não querem saber de
política. Teve um momento, depois de eu ser governador, que se eu lanço um
deles candidatos a vereador ou até deputado estadual, poderíamos até ter
ganhado. Eu não tenho herdeiro político, tô fora disso.
ac24horas:
Eu vejo que você é muito ligado a sua família e sei também que você perdeu um
filho de forma trágica. Esse foi a pior do que o senhor já sentiu fora do
governo?
Romildo: É…[fica pensantivo] Nós estávamos
trabalhando no sábado no Haras e no domingo mataram meu filho. Eu sinto e choro
isso todos os dias. Na verdade falar disso me incomoda. A perda de um filho é
irreparável. Filho é sempre filho. È muito dolorido, principalmente da maneira
que mataram o meu filho. Foi algo covarde e isso eu não consigo esquecer…essa
ferida não sara, ela não fecha de jeito nenhum.
ac24horas:
Eu soube que o senhor perdoou os assassinos de seus filhos, mas o senhor perdoa
todos os oposicionistas que fizeram a sua vida durante o governo num inferno?
Romildo: Claro, perdoei. Se eu não
perdoar, como vou para o céu. A bíblia diz que se você quer ser
perdoado, você tem que liberar perdão, isso tá na palavra. Nós, para sermos
perdoados, diante do senhor que nós servimos que é Deus, nós temos que liberar
perdão, meu irmão. Se você guarda consigo a raiva, o ódio de alguém, você tá
alimentando e satisfazendo a vontade do diabo , porque quem não libera o perdão
é o satanás, mas quem é cristão, é filho de Deus, nunca vai deixar de liberar
perdão. Então eu lhe digo, liberar perdão é buscar salvação. Todos esses ai que
me causaram danos, até posso dizer danos morais, tá liberado o perdão para
eles. Eu tô pagando caro, mas tá liberado o perdão e que seja feita a vontade
de Deus. Eu durmo tranquilamente.
FONTE: AC24HORAS
Marcos Venícios – editor-chefe do
ac24horas
Ray Melo – Editor de Política do
ac24horas