Usuário de drogas, pai da garota
Maiquele, 4 anos, estuprada e assassinada em Xapuri, diz que em memória da
filha abandonará o vício para se dedicar à família
PREFEITO de Acrelândia participou de reunião na Secretaria de Segurança Pública do Estado - Foto: Assessoria Sesp |
O trabalhador braçal Antônio
Nonato de Oliveira, 37 anos, é uma das muitas vítimas da mazela social chamada
tráfico de drogas. Sua aparência esquálida e sofrida é característica daqueles
que por anos a fio se entregam à escravidão do vício, deixando exposto aos
perigos da sociedade embrutecida em que vivemos o seu bem mais valioso: a
família.
Antônio Nonato já não sabe dizer
há quanto tempo faz uso de substâncias entorpecentes, mas se recorda bem de
quando foi a última vez que fez isso. Foi há cinco dias, um pouco antes de sua
filha de apenas 4 anos de idade ser brutalmente estuprada e assassinada por um
conhecido de infância, o maníaco sexual Jaisson Moreira de Moura, o Pitbull.
Em uma conversa em
"off" no estúdio principal da Rádio Educadora 6 de Agosto, na manhã
desta quarta-feira, 23, o pai de Maiquele contou um pouco de seu drama, da luta
contra as drogas e o do sentimento de perda e culpa depois da tragédia que,
segundo ele, poderia ter sido evitada. Antônio tem mais 4 filhos de idades que
vão de 11 meses a 14 anos.
Morador de uma das regiões mais
pobres de Xapuri, o conjunto Armando Nogueira, com nenhuma escolaridade,
Antônio tira o sustento de sua família do trabalho em uma pequena colônia,
localizada ás margens do Rio Acre, e de serviços de diarista que presta em
propriedades rurais do município como, por exemplo, "bater veneno" em
pastagens.
Com os olhos marejados, diz que
sempre teve vontade de não mais usar drogas para poder oferecer mais conforto e
proteção à sua família. Afirma que tentou por diversas vezes, por conta
própria, abandonar o vício, mas suas condições de vida e o apelo dos
entorpecentes sempre foram mais fortes, o empurrando de volta para aquele
mundo.
Mesmo negando que sua relação com
o assassino de sua filha tenha se dado em razão do uso de drogas, Antônio
Nonato reconhece que jamais poderia ter permitido que Pitbull tivesse tanta
proximidade com sua família. Ele afirma que era conhecedor do histórico do
criminoso, que inclusive já tinha assediado a filha mais velha do casal, que
tem 14 anos.
Perguntado pelas razões de não
ter denunciado Pitbull à polícia nesse episódio, ele cala, respira fundo e
balança a cabeça negativamente, num gesto que demonstra desorientação e falta
de senso de realidade. Com 4 filhas dentro de casa, o casal Antônio e Marinalva
tolerava a presença de um monstro de índole conhecida e lhe preparavam tira-gosto.
Numa postura diferente, motivada
pela morte da filha, Antônio alerta que no seu bairro reside outro indivíduo
que tem atração por crianças. O homem, que atende, segundo ele, pela alcunha de
"Jack", já teria desaparecido com uma menina de 11 anos tendo sido
encontrado antes que tivesse tempo de cometer alguma violência contra a garota.
Uma rápida reflexão sobre o
comportamento de Antônio, um homem dominado pelo vício, leva-me a crer que sua
relação próxima com pessoas envolvidas em diversos tipos de malfeitos o
submetia a uma condição de medo e submissão. Sabia que o perigo batia à sua
porta, mas se sentia acovardado ou imune aos riscos por fazer parte daquele
grupo de pessoas.
Antônio Nonato disse que sua vida
está destruída e garantiu que agora abandonará as drogas em memória de sua
filha. "Acabou-se a minha vida. Minha filha é uma menina alegre, cheia de
vida, que corria para me receber quando eu chegava em casa de moto-táxi. Nunca
mais usarei drogas em homenagem a ela e vou me dedicar mais aos outros
filhos", prometeu.
É claro que não existe qualquer
garantia de que o homem abandone as drogas e ofereça mais atenção à sua família
apenas porque foi impactado por essa tragédia terrível, mas provavelmente sua
vida não será mais a mesma. Carregará para sempre nos ombros o peso da culpa e
no coração a dor da perda.
E certamente ninguém em Xapuri
será mais o mesmo, e talvez nem mesmo a cidade seja mais a mesma depois do
martírio vivido pela pequena Maiquele, um anjo de apenas 4 anos.
Fonte: Jornal Página 20 com informações do Blog do Raimari
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