Termina neste sábado (2) o prazo
de quatro anos para as cidades brasileiras adequarem sua gestão do lixo às
regras da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Sancionada em 2 de
agosto de 2010, ela determina ações como a extinção dos lixões do país, além da
implantação da reciclagem, reuso, compostagem, tratamento do lixo e coleta
seletiva nos municípios.
Pela lei, a partir deste domingo
(3), as prefeituras com lixo a céu aberto podem responder por crime ambiental,
com aplicação de multas de até R$ 50 milhões, além do risco de não receberem
mais verbas do governo federal. Os prefeitos, por sua vez, correm o risco de
perder o mandato.
Em tese, se a legislação for
cumprida à risca, muitas cidades podem ser punidas. Segundo o Ministério do
Meio Ambiente, somente 2.202 municípios, de um total de 5.570, estabeleceram
medidas para garantir a destinação adequada do lixo que não pode ser reciclado
ou usado em compostagem.
Os municípios que não terão o
aterro sanitário a tempo de se enquadrar na lei estão espalhados por todas as
regiões do Brasil. No Paraná, por exemplo, há cidades que até dois meses atrás
sequer haviam apresentado um plano de adequação. Uma saída para os pequenos
municípios paranaenses pode ser a formação de consórcios para uso conjunto dos
aterros, para evitar que cada localidade tenha que arcar com os custos de ter o
seu próprio.
No rio Grande do Norte, somente
Mosssoró e a Região Metropolitana de Natal têm aterros. Situação semelhante
vive Rondônia, onde só Ariquemes e Vilhena já se adequaram. A capital,
Porto Velho, já escolheu o local de seu novo aterro, mas as obras ainda não começaram.
O estado do Rio de Janeiro tem
93% do lixo indo para destinação correta, mas, ainda assim, tem vinte lixões
que precisam ser desativados. O estado de São Paulo também tem municípios com
lixões irregulares, como Presidente Prudente e Ourinhos. O Distrito
Federal ainda está licitando a construção das células protegidas de seu novo
aterro sanitário. Enquanto isso, seus resíduos vão para um lixão, sem nenhum
tratamento.
Mesmo sabendo que 60% dos
municípios não cumprem a lei, o governo não pedirá prorrogação de prazo para
que o programa passe a vigorar. André Vilhena, diretor da associação
Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), afirma que o Brasil já venceu
a fase de, na véspera, precisar esticar prazos por não haver cumprimento de
metas.
Segundo ele, há a possibilidade
de prorrogação por meio de acordos firmados entre os municípios e o Ministério
Público. “O prazo se encerra, mas quem não cumprir pode fazer a prorrogação por
meio de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC)", explica. Ele disse ainda que
isto ajuda a analisar a particularidade de cada município. A maioria enfrenta
problemas de falta de verba.
Principais objetivos
A PNRS tem como prioridades a
redução do volume de resíduos gerados, a ampliação da reciclagem, aliada a
mecanismos de coleta seletiva com inclusão social de catadores e a extinção dos
lixões. Além disso, prevê a implantação de aterros sanitários que receberão
apenas dejetos, aquilo que, em última instância, não pode ser aproveitado.
Esses aterros, por sua vez,
deverão ser forrados com manta impermeável para evitar a contaminação do solo.
O chorume, líquido liberado pela decomposição do lixo, deverá ser tratado. O
gás metano que resulta da decomposição do lixo, que pode explodir, terá que ser
queimado.
De acordo com o Ministério do
Meio Ambiente, os instrumentos da PNRS ajudarão o país a reciclar 20% dos
resíduos já em 2015. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
(SNIS), referentes a 2012 e que são os mais recentes, apontam que só 3,1% do
lixo gerado no país naquele ano foi destinado à coleta seletiva e que 1,5% dos
resíduos domiciliares e públicos foram recuperados.
Naquele ano, o Brasil gerou 62,7
milhões de toneladas de resíduos sólidos e coletou 57,9 milhões de toneladas
deste total. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais, a Abrelpe, 42% do montante coletado teve destinação
inadequada e em 3.352 cidades os detritos foram encaminhados para lixões ou
aterros controlados – que, para especialistas, são apenas lixões melhorados.
Incapacidade técnica
Geraldo Antônio Reichert,
coordenador da Câmara temático de Resíduos Sólidos da Associação Brasileira de
Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), afirma que a maioria das cidades com
problemas na gestão dos resíduos sólidos não cumpriram o prazo a tempo por não
terem dinheiro em caixa e não conseguirem financiamento do governo federal.
O presidente da Abrelpe, Carlos
Silva Filho, disse que os altos índices de destinação irregular poderiam ter
caído se os municípios tivessem utilizado instrumentos disponíveis na Lei de
Saneamento Básico, que incluem verbas do governo federal para obras. Mas,
segundo ele, faltou capacidade técnica às prefeituras para montar projetos
adequados às regras da União.
De acordo com o Ministério do
Meio Ambiente, nos últimos quatro anos foram disponibilizados R$ 1,2 bilhão
para que estados e municípios realizassem o planejamento das ações e iniciassem
medidas para se adequarem à nova legislação de resíduos sólidos. Mas apenas 50%
do montante foi efetivamente aplicado.
“São situações de incapacidade
técnica de municípios, incapacidade de acessar recursos. Tem situações,
inclusive, que podem ser resolvidas entendendo melhor a integração dos planos
municipais”, declarou a ministra Izabella Teixeira, na última quinta-feira
(31).
Atualmente, somente três estados
possuem plano de resíduos sólidos: Ceará, Maranhão e Rio de Janeiro. O
ministério não divulgou o total de municípios que já têm o plano definido.
Matéria: G1.com
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