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domingo, 20 de julho de 2014

HILDEBRANDO PASCOAL: A SAGA DE UM EX-CORONEL

Alguns afirmam que se Hildebrando Pascoal tivesse direito à liberdade e se candidatasse por qualquer partido de oposição, conseguiria se eleger sem muito esforço, deputado federal, cargo que ele viu escapar no dia 22 de setembro de 1999, deixando de ser o temido “homem da motosserra”, para ser mais um detento, inicialmente no presídio Papudinha, até dezembro de 2003, e agora, na Unidade de Segurança Máxima, Antônio Amaro, em Rio Branco. Há quem diga que no seu tempo, o estado era menos violento e que os marginais temiam a Polícia que ele [Hildebrando] comandou com mão de ferro na década de 90. Mas em tese, não existe a menor possibilidade de sua liberdade, mesmo após 14 anos de cárcere privado.

Hildebrando responde a outros processos, e para alguns juristas, a cada nova condenação vai estendendo o limite, sempre para 30 anos, independente do tempo que já tenha cumprido. Uma discursão bem divergente, mas neste caso, longe de uma contagem regressiva. Os primeiros trinta anos de pena contra Hildebrando Pascoal vencem em 2029. A ciência prevê que nesta época, as pessoas estarão aperfeiçoando seus corpos por meio de microimplantes e nano-robôs injetados na corrente sanguínea.

Mas voltando ao nosso tempo, longe de ser uma máquina, Hildebrando Pascoal é um homem extremamente debilitado. Condenado a mais de 110 anos de prisão, a reportagem teve acesso exclusivo a informações sobre a sua rotina dentro do presídio de segurança máxima Antônio Amaro, em Rio Branco. Segundo informações de agentes penitenciários que pediram para não ter seus nomes revelados, o “temido” chefe do esquadrão da morte, tem comportamento exemplar dentro da penitenciária e mantém hábitos comuns.
“Ele nos trata como senhor e diz sim senhor a qualquer ordem dada”, disse o agente.
 
A ROTINA DO EX-CORONEL
Fora o banho de sol que toma das 8h às 9h pela manhã e das 16h às 17h pela tarde, a maior parte do tempo Hildebrando Pascoal dedica a estudar seus processos. “Ele ler muito, escreve, prepara a sua defesa, ensaia o que vai dizer na frente do juiz”, acrescenta o agente.

Dividindo uma cela conhecida como Enfermaria com outros presos, às vezes, devido a sua condição de saúde, Hildebrando pede para voltar mais cedo para sua cela, de 12m². “Nela ele se dedica a ler muito a Bíblia”, acrescenta o informante.

A esposa do ex-coronel, Maria Rosângela, é responsável por levar os alimentos que compõem sua dieta rigorosa. O ex-comandante da Policia Militar tem problemas cardíacos, tem diabetes e sofre de depressão. Hildebrando veste roupas leves, usa bermuda durante os banhos de sol e fala muito pouco.

Poucas vezes que saiu do confinamento foi para o enterro de dois irmãos e algumas internações. Hildebrando é o segundo dos nove filhos de Cosme e Amoty Pascoal. Ele fez carreira na Policia Militar a partir de 1974 e mesmo condenado por tráfico internacional de drogas, morou em uma única residência, de classe média na estrada do Aviário. Muitos não acreditam que o oficial tenha envolvimento com o tráfico de drogas.

ÚNICO DESABAFO
Mesmo debilitado, para muitos, Hildebrando ainda é capaz de causar terror, tanto que apesar das prescrições médicas contrárias, Hildebrando estaria sendo transportado algemado à maca e teria caído durante o suposto ato de imperícia do condutor de uma ambulância. Durante a queda, um dos braços do coronel aposentado ficou preso e sofreu sérias lesões. O caso foi comunicado à Polícia no mesmo dia da ocorrência, em julho de 2012 e ficou por quase dois anos na gaveta até ser instaurado o inquérito policial.

Nem precisou sair da cadeia para provocar um correria no Poder Judiciário, no dia em que enviou de dentro do Presídio de Segurança Máxima, três cartas, manuscritas frente e verso, enviadas via sedex, onde fez ameaças a desembargadora Eva Evangelista, o procurador-geral de Justiça, Sammy Lopes, o senador Jorge Viana (PT-AC), além de um empresário da área de comunicação.

Uma reunião foi convocada às pressas no dia 28 de fevereiro de 2012, pelo então presidente do Tribunal de Justiça, Adair Longuini (hoje presidente do TRE-AC). Nesse encontro, a cunhada de Hildebrando, Vanda Milani, participou. Para ela foi endereçada uma das cartas escritas pelo temido ex-coronel onde ele a acusa de ter interferido em uma reunião entre o ex-governador Orleir Cameli e o desembargador Gercino Silva, onde, segundo Hildebrando, seria colocado um fim entre as desavenças com o desembargador.

“O Des. Gercino pediu ao governador Orleir Cameli para que me persuadisse a participar de uma reunião com ele, para acabarmos com as desavenças. Orleir fez o pedido e eu o aceitei.  A reunião fora marcada para quarta-feira entre Gercino e eu, sendo mediada pelo governador. Ingenuamente comentei com você, Vanda, da reunião que seria realizada entre Gercino e eu com a mediação de Orleir. Estranhamente a reunião não fora realizada. Você, Vanda, sabendo da reunião porque eu havia lhe falado, movida pelo ódio e pela vingança por não ter sido escolhida por mim como candidata a deputada estadual, falou para o então governador que eu iria matá-lo, razão pela qual a reunião não se realizara”, relatou Hildebrando.

Em outro trecho, o ex-coronel pediu ajuda de R$ 6 mil para se manter, alegando que perdeu a patente e o salário que conquistou “com honra”. E ameaçou “tornar público todas as mazelas do Ministério Público e do Poder Judiciário, fornecendo detalhes”.

Ficou apenas na promessa. Tais documentos renderam outros processos contra Hildebrando, desta vez por crime de extorsão e duas acusações de ameaça. O coronel voltou ao seu comportamento normal.

O SILÊNCIO LHE ACOMPANHA
Uma das últimas vezes que foi internado no Hospital das Clinicas, em Rio Branco, Hildebrando recusou um requerimento para depor na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Em maio deste ano permaneceu em silêncio durante 33 minutos que duraram o seu depoimento na 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco, no processo em que é acusado pelo sequestro e morte da vítima José Hugo Alves Júnior, ocorrida em 1997, no estado do Piauí.

Nestas eleições completam 20 anos que Hildebrando Pascoal chegou a ser comandante da Policia Militar e reformou-se com a patente de coronel para se candidatar a deputado estadual, eleito, em 1994.

“Infelizmente em certos momentos de nossas vidas, nos encontramos em posições em que nos deparamos com pessoas erradas, nos lugares errados e em situações mais erradas ainda, onde traímos os nossos ideais e nossas convicções. Este é o desabafo de um homem que sempre, indiscutivelmente, colocou em primeiro lugar a ética e a honra″ escreveu Hildebrando Pascoal.
Matéria: Ac24horas

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