A Polícia Civil do Acre
desarticulou na manhã de ontem uma das operações de maior sucesso no que se
refere ao combate à criminalidade no Estado. Trata-se da maior facção criminosa
do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC), um verdadeiro "sindicato do
crime", que planejava assaltos, sequestros, assassinatos e o tráfico de
drogas dentro do presídio Francisco de Oliveira Conde.
Ao todo, foram expedidos 39
mandados, 34 dos quais destinados à penal, de onde detentos, inclusive o líder
da quadrilha, o paulista Tiago da Silva Gomes, que cumpre pena por latrocínio,
controlava a máfia e recrutava novos discípulos ao comando. A polícia
identificou, dos 39 presos, oito chefões da facção, sendo dois deles
presidiários de outros Estados.
Na
linha de frente das apreensões e prisões, 130 policiais civis e militares, além
de nove delegados, conduziram a operação, batizada de "Diáspora",
cujo significado é dispersão. Embora tenha nascido em São Paulo nem 1993,
onde seu poder é maior até hoje, o PCC também invadiu as "fronteiras"
e está presente em vários Estados brasileiros, como Rio de Janeiro, Bahia,
Alagoas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Minas Gerais e Rondônia.
Graças
à ação rápida e eficiente da polícia acreana, em uma investigação que se
iniciou em novembro do ano passado, com mais 2.160 horas de acompanhamento
permanente, o primeiro braço da facção criminosa do PCC foi desmontado com
sucesso, conforme frisou o subcomandante da Polícia Militar, Paulo César.
De
acordo com o secretário de Polícia Civil, Emylson Farias, o principal aliado do
comando era o telefone celular, presente dentro de quase todas as celas da
penitenciária. Com eles os chefes do PCC davam as ordens do crime para outras
cadeias e para os que estavam do lado de fora. A polícia aprendeu drogas,
celulares e muitas anotações com planilhas, estatuto do comando, nomes de
integrantes do PCC, datas e valores referentes à venda de drogas e compra de
armas.
"Diante
de uma situação dessa grave e perigosa, a polícia do Acre conseguiu agir com
rapidez e presteza, assim como a transferência desses criminosos para outros
presídios da Federação. É importante deixar claro, principalmente para a
opinião pública, que uma pessoa que é iniciada no PCC não interessa se ela vai
ser presa ou ficar em liberdade, tendo em vista que a prisão e até um prêmio,
já que todos eles têm que fazer uma contribuição mensal para a organização
manter suas famílias. Pelo menos 15 assaltos de grandes vultos foram evitados,
e três ordens de execução, frustradas. Estamos dando um golpe forte em uma
célula criminosa que estava querendo se instalar no Estado. Mas ressalto mais
uma vez que o olhar tem que ser contínuo e a batalha, diária. Todas as
instituições, todos os poderes têm que estar sempre a postos para que a gente
não permita que o PCC, esse câncer, não entre na sociedade acreana",
ressalta Farias.
As
autoridades policiais acreditam que nenhum Estado teve uma ação tão eficaz para
impedir a ramificação da facção criminosa como a que foi realizada no Acre.
Seis dos oito membros que lideravam a organização criminosa no Acre serão
transferidos neste sábado a presídios de outros Estados.
Desabafo de um delegado
Um
dos momentos que chamou atenção durante a coletiva de imprensa foi o desabafo
do delegado Alcino Ferreira, da Delegacia Antiassalto da Polícia Civil (DAPC).
"Identificamos que cada membro tinha uma função bem definida dentro da
organização. Hoje conseguimos apreender um livro que fecha com a investigação,
contendo anotações dos valores que financiam o crime. São valores utilizados
para a compra de armas na fronteira com Brasileia, pouco policiada e pouca
fiscalizada. Verificamos a droga vindo e descendo do Acre para o Sul e o
Sudeste. A maconha vem do Paraguai para o Acre. São pequenos relatos para vocês
verificarem como realmente estamos desguarnecidos de fronteira, como o
investimento na segurança ainda é muito aquém do necessário aqui no nosso
Estado", relata.
Alcino
destacou ainda que 60% dos roubos de médio e grande portes é ordenada de dentro
do presídio, enfatizando o assalto frustrado à Lanchonete Bob´s, que a polícia
evitou graças ao monitoramento dos integrantes do PCC.
"Nos últimos dias, os
roubos, que antes eram mediante grave ameaça, hoje acontecem com violência.
Disparo de arma de fogo, gente lesionada, bandido entrando em casa de família,
rendendo crianças. Justamente o perfil violento que o PCC vem trazendo. Entrada
de celulares e drogas no presídio é de praxe, o que não é mais segredo para
ninguém. No fiml do ano, a polícia trabalhou evitando roubo em dois postos de
gasolina, cujos cofres iriam ser arrancados, e a gerente foi monitorada pelo
PCC para ser sequestrada. Então estamos diante de coisas maiores. Portanto, a
gente precisa ter uma atenção para a segurança. Eu me preocupo quando a gente
vê, por exemplo, a Polícia Civil engatinhando com situação de pessoal. É um
desabafo, mas eu precisava dizer. Essa operação contra o PCC foi feita com o
mínimo, com o que tínhamos", desabafa Alcino.
Fonte: Jornal O Página 20
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